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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Flona do Jamari

Para você que vem acompanhando nossas postagens, ou você que vai ler pela primeira vez, o texto de hoje é um pouco diferente do que costumamos contar, ou seja, não vamos contar sobre uma de nossas passarinhadas, mas de uma experiência que eu NatháliaF. Canassa tive em uma consultoria de ornitologia na Flona do Jamari, na Cidade de Itapuã do Oeste- RO. Para você não ficar questionando o que uma mastozoóloga foi fazer em um campo de ornitologia, já deixarei bem claro que antes estava fazendo consultoria de masto, ou seja, trabalho com mamíferos e me ofereci para auxiliar o Prof. Dr. Ricardo Krul, Coordenador do Laboratório de Ornitologia do Centro de Estudos do Mar da UFPR, pois queria conhecer as aves que habitam o oeste da Amazônia e como uma boa Penelope que se preze, observar vários bichos e fazer lifers. Enfim, como se tratava de uma consultoria, tínhamos que seguir uma metodologia. Acordávamos todos os dias às 4h30min da manhã, e infelizmente nossas trilhas eram distantes de onde estávamos, então a gente tinha que sair no máximo às 5h, já que nosso trabalho tinha rendimento das 6h da manhã até às 10h. Os horários para mim eram o de menos, pois eu só torcia para que no meio do caminho víssemos uma onça-pintada (Panthera onca). Conseguimos ver apenas um dia de tarde quando fomos pescar, passando correndo na nossa frente, mas uma pena, pois não deu para fotografar. Durante a amostragem, o Prof. Dr. Ricardo gravava as vocalizações dos bichos e anotava na caderneta, enquanto me ensinava os nomes científicos e os cantos para eu aprender. Ouvimos bastante os cantos do chororó-negro (Cercomacra nigrescensis), do capitão-do-mato ou cricrió (Lipaugus vociferans), surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus), surucuá-de-cauda-preta (Trogon melanurus), surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucuí) e mais um monte que não me recordo. Com toda minha experiência em “ornito”, ou seja, nenhuma, eu ficava prestando atenção para que no próximo ponto eu pudesse ajudar, mas o máximo que eu conseguia fazer era dizer “esse canto eu ouço bastante quando estou fazendo censo” ou “esse eu já ouvi também, parece um que tem lá na Paraíba” (obrigada meninas pelas passarinhadas, vocês eram sempre lembradas) ou “mentira que esse canto é desse bicho, sempre que ele canta me assusta ou assusta meus bichos, os mamíferos”. Um exemplo é com o udu-de-bico-largo (Electron platyrhynchum)), pois eu sempre queria saber que bicho era esse que ficava “udu...udu...” e como eu tinha raiva dele.


 
udu-de-bico-largo (Electron platyrhynchum)
                                                  
 Quando tive a oportunidade de vê-lo, não esperava que fosse tão bonito e finalmente havia conseguido a foto de uma ave. Não ficou do jeito que eu gostaria, mas valeu o registo (eu acho). Além de tentar ajudar através das vocalizações, eu queria mesmo era ver as aves, então, sempre que via algo voando sobre a minha cabeça, eu ia na mesma direção e acabava não vendo. Nunca vi  bichos tão difíceis de serem fotografados.  Isso às vezes me irritava, no entanto, eu não podia esquecer que quem estava do meu lado era um ornitólogo e toda vez que o Ricardo ouvia um bicho bonito ou uma ave diferente, que seria ótimo para tirarmos uma foto, ele usava o playback. Lembro que o primeiro bicho no primeiro dia que respondeu bem, mas fez a gente de “bobo”, foi o surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus), cuja foto ficou linda #SQN, só apareceu a barriga dele #chatiada. Por outro lado, teve um dia que o papa-formiga-pardo (Formicivora grisea), depois de uma hora (não estávamos mais no horário de trabalho) deixou a gente fotografá-lo, só que a foto ficou mais ou menos. Já para outras aves nem foi preciso muito esforço, como a ariramba-do-paraíso (Galbula dea), que de tão quietinha que ficou, permitiu muitas fotos e o meu “mas” de agora é que o céu estava horrível, na verdade, minhas fotos só não ficaram melhores por conta do tempo, todos os dias nublados. 


 papa-formiga-pardo (Formicivora grisea)
                                                     

 ariramba-do-paraíso (Galbula dea)
                                                        

Nessa consultoria eu creio ter começado a gostar de pica-paus. Acho que foi porque era o único bicho que eu sabia quem era, por estar ali apenas “bicando” o tronco de uma árvore, sabia que era um pica-pau, mas não sabia qual pica-pau era. Daí, eu sempre ia procurar em qual árvore ele poderia estar para eu poder vê-lo, e como sempre era em vão, eu chegava a ficar com dor no pescoço de tanto que olhava pra cima, até não escutar mais as batidas no tronco. Na sequência, eu ouvi um canto, eu olhei para o Ricardo e disse “que ave é essa? A gente ainda não ouviu né?” e simplesmente ele respondeu: “Já sim! É o fulano (só que em nome científico), aquele pica-pau que você estava procurando”! Lá ficava eu com cara de tacho, mas tudo bem, pelo menos acho que era empolgada. Enquanto o Ricardo ficava gravando, o silêncio era crucial, na verdade era para ser. Às vezes eu não percebia que ele estava gravando e ficava procurando alguma ave diferente em um local bacana para que eu pudesse fotografar. Quando eu via uma, meus olhinhos brilhavam, sorrisão na orelha e dizia: “Ricardo, estou vendo aquele que você me disse” ou “eu viii, ele é pretinho” ou “esse eu nunca vi, que bicho é esse?” Como vocês podem ver, eu não falava os nomes das aves, nem o popular e muito menos o científico, acho complicado. Na verdade, são piores que os nomes científicos de mamíferos, porém um ou outro eu sabia, como o chora-chuva-de-cara-branca (Monasa morphoeus) e o chora-chuva-preto (Monasa nigrifrons), essas duas espécies de tanto que a gente vê, consegui aprender a identificá-los. Se fossem animais terrestres a gente andava chutando. As araras-canindé (Ara ararauna), danadas, que às vezes me davam susto ou atrapalhavam as gravações, pior do que eu. O gavião-pedrês (Buteo nitidus), pois todo gavião que eu via, eu falava que era ele e a maioria era, acho que ele me perseguia, por isso se tornou meu xodó, ainda não consigo distinguir o canto de um gavião para outro, para mim ainda continua a soar tudo igual. O último que eu me lembro de saber dizer tanto o nome popular quanto o científico é a rendeira (Manacus manacus), na hora só soube dizer quem era pois estavam fazendo lek e olha aí as Penelopes me ajudando mais uma vez. Aprendi em uma passarinhada na Mata do Pau Ferro. Mais uma vez eu agradeço e como sempre, SEM FOTO, o mutum cavalo (Pauxi tuberosa), o jacu-de-spix (Penelope jacquacu) e o jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis). Esses três eu sou obrigada a saber, pois anotamos eles em censo, e na estrada mesmo a gente consegue ver. O mutum é folgado, não sai da frente do carro por nada, o jacu escandaloso dá susto (eu levo muito susto), o jacamim é mais difícil de ver, mas um dia uma família ficou passando na nossa frente na estrada, só que rápido, ou seja, minhas fotos ficaram embaçadas. Vimos então minha dificuldade, mas com duas espécies tentei fazer associações para pelo menos lembrar o nome científico, no caso do inhambu-relógio (Crypturellus strigulosus), falava para o Ricardo “esse não é aquele faminto?” e o outro foi com o cantador ocráceo (Hypocnemis ochrogyna) que não vou falar, pois é uma associação que não é permitida no blog, mas deixo para vocês imaginarem.


chora-chuva-preto (Monasa nigrifrons)


gavião-pedrês (Buteo nitidus)


Como estávamos em uma área enorme, com “muuuita” coisa para se ver, sempre depois do trabalho feito íamos para algumas áreas diferentes fazer o quê? Pescar! Como é bom pescar, eu ficava horas e horas e não pescava nada, para não dizer que não consegui pegar um peixe, pesquei uma piranha e um tucunaré mirrado, em um dia, por que no resto não vou nem comentar. Já o Ricardo, ele não passa fome. Ao todo ele deve ter pescado uns oito ou mais peixes. Além de pescar, passarinhávamos. Um dia, antes de pescarmos, fomos passarinhar e foi o caso quando conseguimos altas fotos do xexéu (Cacicus cela) com um ninho. O azar foi que não conseguimos tirar foto dele alimentando o filhote. Curió (Sporophila angolensis), garça branca grande (Ardea alba) e até jacaré.   Durante as pescarias era possível ver o gavião-belo (Busarellus nigricollis) , gavião de anta (Daptrius ater), anu preto (Crotophaga ani), sete-cores-da-amazonia (Tangara chilensis), pipira-vermelha (Ramphocelus carbo), pato-do-mato (Cairina moschata), periquitão maracanã (Psittacara leucophthalmus), quero-quero (Vanellus chillensis), tucano grande do papo grande (Ramphastos tucanus ), urubu de cabeça preta (Coragyps atratus), maria da praia (Ochthornis littoralis) ,  não tínhamos preocupação com a hora e nem com o tempo de permanência. Esses eram os melhores momentos, quando eu conseguia visualizar muito mais aves. Bati muuuito mais fotos e altos lifers (na verdade todas as aves que eu via eram lifers). O melhor de tudo é que eu também via mamíferos, como o porco-do-mato (Pecari tajacu,)  bandos de macaco de cheiro (Saimiri ustus), zogue-zogue (Callicebus brunneus), esquilo (Urosciurus spadiceus), ariranha (Pteronura brasiliensis). E o mais lindo de todos (quando eu disse que estava apaixonada por pica-pau não era brincadeira). Em um domingo de manhã, passarinhando eu e o Ricardo, fomos cada um para um lado, por que eu fui para o outro lado? Ouvi um pica pau *-*, estava eu linda, com a cabeça para cima, a boca aberta, procurando o pica-pau, de repente, um matinho se mexe na minha frente, eu congelei na hora e fiquei olhando uma lindeza a uns três metros de mim, me olhando de volta, adivinhem só? Uma Panthera onca (onça pintada), NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO, não era, queria eu que fosse, além de congelada eu estaria toda trêmula, mas era um lindo cachorro do mato (Cerdocyon thous), conhecido como raposinha. Ele andou na minha frente, parou e fez pose, eu ficava olhando com cara de apaixonada e foi lindo, eu ganhei meu domingo, não queria saber de mais nada. Eu amei estar em campo observando aves, tirando fotos, conhecendo os cantos, vendo que existem passarinhos tão mirradinhos com um canto muuuuuito louco e que acabam te encantando. Mas puxarei sardinha para o meu lado, toda vez que eu via algum mamífero, tanto na trilha quanto nas passarinhadas, eu perdia meu foco e ficava lá tirando fotos ou tentando tirar as fotos, rsrsrsrs.


xexéu (Cacicus cela

Jacaré

    quero-quero (Vanellus chillensis)
                                                       
maria da praia (Ochthornis littoralis)


cachorro do mato (Cerdocyon thous)



Vídeo com algumas fotos das passarinhadas 





domingo, 4 de outubro de 2015

Flor Maria Las-Casas

             A nossa próxima homenageada é a Flor Maria Las-Casas, ornitóloga e pós-doutoranda pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É uma das integrantes das Penelopes, atua na função de revisora dos nossos textos além de ser nossa madrinha!!!
 A Flor foi a primeira mulher que conheci que “sacava” dos cantos dos “passarinhos” (infelizmente não são muitas que tem essa habilidade ou dedicação para aprender, mas isso vem mudando, ainda bem!).
Admiramos também a nossa colega homenageada pelo seu vasto conhecimento científico sobre a ornitologia. Trabalha há 15 anos com as aves dentro de áreas como a biologia da conservação, ecologia de comunidades e macroecologia. Dona de uma didática clara e divertida, aprendi muito em campo e fora dele, sempre com muito carinho sanando minhas dúvidas desde que iniciei meus primeiros passos na ornitologia.
Hoje, no laboratório de Ornitologia da UFPE, onde estão mais cinco integrantes do nosso grupo, ela também realiza esse papel de tutora e ainda mais um pouco, abrangendo essa paciência e dedicação a todo nosso grupo! Obrigada de coração Florzinha! Como dizem as Birding Ladies (mulheres observadoras de aves), você é nossa musa inspiradora!!!


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Território Macuxi – Conde – PB

Desta vez, o destino escolhido por nós foi o Território Macuxi, localizado no município de Conde, no litoral sul da Paraíba. É uma área particular de 5,5 hectares, boa parte do terreno é alagado e fica em uma das margens do rio Guruji. O local fica a 30km de distncia de João Pessoa e a entrada é viabilizada através do proprietário  Julindio (Facebook do Território Macuxi).
Localização do Território Macuxi no município de Conde - PB
    É cobrada uma taxa diária de 20 reais, com direito a trilhas, banho de rio, banho de argila, comer fruta no pé, andar de caiaque, cozinha comunitária, e caso você tenha um espirito mais aventureiro, pode levar barraca e acampar. Claro que essa foi a nossa escolha!


Oca disponível para os visitantes se acomodarem com uma vista maravilhosa a frente

Chegamos já no fim da tarde de um sábado (28/03/2015), o Julindio nos apresentou o local e nossas instalações para a dormida. No trajeto vimos um bando grande de maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis), estava uma luz linda de fim da tarde, ficamos na duvida se fotografávamos primeiros  ou se iriamos montar a barraca, já que a noite não teria acesso à luz. Tomamos a pior decisão, montar a barraca e pior ainda, com as máquinas dentro do carro, bem longe da gente, resultado: armando a barraca em cima de uma oca   com aquele visual lindo de pôr-do-sol, pousa na altura dos nossos olhos, em uma embaúba (Cecropia sp), um casal de saí-azul (Dacnis cayana). Nossa... seria uma foto perfeita, mas sem máquina.... só nos restou admirar-las. Logo em seguida apareceu um  pia-cobra (Geothlypis aequinoctialis), esta espécie não estava registrada no wikiaves para o município do Conde. Não fizemos a foto, mas no dia seguinte gravamos sua vocalização para confirmar o registro (registro sonoro pia-cobra). Ainda vacilamos com muitas coisas nas passarinhadas, mas faz parte do nosso aprendizado, somos iniciantes, vamos aprender muito com nossos erros ainda! Barraca armada, já de noite, fizemos um jantar, tomamos um banho de cuia e subimos na nossa oca. Levamos um vinho para relaxar e jogar conversa fora!


Momento descontração da noite
Acordamos como a vocalização de uma saracura-três-potes (Aramides cajaneus), perto de 5 horas da manha, saímos da barraca e tivemos uma surpresa... o visual era espetacular! Assim é fácil acordar cedo com disposição!
Vista panorâmica de cima da nossa Oca


Começamos nossa trilha registrando no e-bird todas as aves observadas (vistas e/ou ouvidas). Encontramos no caminho: a guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster), o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), a Juruviara (Vireo chivi), o pitiguari (Cyclarhis gujanensis) e o rapazinho-dos-velhos (Nystalus maculatus).


Guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster)

Paramos um pouco na beira do rio Guruji para tentar observar algumas aves associadas a ambiente aquático. A saracura-três-potes (Aramides cajanea) não deu mais sinal de vida, mas aparecerem dois  socozinhos (Butorides striata) e a andorinha-do-rio (Tachycineta albiventer ).


O rio Guruji ao fundo, ao lado na árvore a esquerda um trapézio pendurado onde os visitantes podem se divertir se atirando no rio.

Continuamos a trilha, aproveitamos para fazer uma “boquinha” e se deliciar com uma manga caída do pé e depois fizemos uma paradinha num pé de cajueiro! Subir em árvore me remete a infância, é bom demais. 
Relembramos a infância 

Há uns 300 metros da área do rio,  encontramos uma vegetação baixa ao lado de uma plantação de mandioca, avistamos um “papa-capim” (Sporophila sp), por se tratar de uma fêmea não conseguimos identificar a nível de espécie, o individuo também não cantou para matar a charada! Colocamos a foto no grupo de identificação de aves no facebook, (grupo de identificação de aves) é ótima opção para quem precisa identificar uma espécie que não conhece, as pessoas são sempre muito solicitas. Segundo as sugestões pode ser a fêmea de um caboclinho (S. bouvreil) ou um bigodinho (S. lineola).


Fêmea de “papa-capim” (sporophila sp)

A andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficollis) estava fazendo pose no galho seco e um suiriri (Tyrannus melancholicus) cantava abrindo suas asas!


Andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficollis)
Suiriri (Tyrannus melancholicus)

Voltamos a nossa “oca” pois o tempo fechou...choveu rápido e logo o sol voltou, nesse meio tempo um beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) aproveitou para tomar um banho e se refrescar... duas corruíras (Troglodytes musculus) também estavam animadas com a chuva e cantaram muito próximo a nossa barraca! A paisagem com respingos da chuva conseguiu ficar ainda mais bonita!

Corruíra (Troglodytes musculus)

Beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura)


Vista panorâmica de cima da oca durante a chuva

Fomos ate a cozinha comunitária tomar um café e no trajeto continuamos nossa lista, pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros), quero-quero (Vanellus chilensis), anu-branco (Guira guira), anu-preto (Crotophaga ani), sanhaçu-do-coqueiro (Thraupis palmarum), vira-bosta (Molothrus bonariensis), cambacica (Coereba flaveola) e um casal de tuins trocando carinho (Forpus xanthopterygius).

Fêmea do tuim fazendo um cafuné, depois o macho retribuindo (Forpus xanthopterygius)

Cambacica (Coereba flaveola)

Mas não só de passarinhar “vivem” as Penelopes, resolvemos aproveitar o que o Território Macuxi tinha a oferecer, comemos acerola no pé e fomos começar nosso SPA de banho de lama e na sequência um  banho de rio. E claro que também  usufruímos  dos balanços!


Acerola no pé
Banho de lama

Depois do relaxamento e muitas estripulias ficamos conversando na sombra de uma árvore, quando reparamos em um beija-flor visitando uma helicônia muito próxima a nós, chegamos mais perto para fotografar, era um beija-flor-de-bico-curvo (Polytmus guainumbi), um bichinho não muito comum de se ver na Paraíba, no wikiaves constam apenas 10 fotos da espécie! Ficamos felizes com o registro e fechamos a passarinhada com chave de ouro.  A lista de aves feita na passarinhada você pode conferir: aqui.

No vídeo abaixo um pequeno resumo da nossa viagem

















sábado, 30 de maio de 2015

Centro de Ciências Agrárias – UFPB – Campus II – Areia – PB

A postagem de hoje é sobre passarinhar em locais corriqueiros. Por que não observar as aves no nosso “caminho da roça” que fazemos todos os dias!? No meu caso, esse cantinho é o Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). vocês podem fazer o mesmo já que muitas universidades brasileiras são arborizadas, e costumo falar que, se tem árvore, tem pássaro, é só procurar. Então, porque não fazer uma listinha da nossa universidade, registrar alguns lifers e sair desbravando o campus por onde passamos os nossos longos dias?Assim ainda ajudamos a mapear as aves, registrando-as e publicando a lista do e-bird (já falamos bem dessa ferramenta aqui, é só visitar os outros posts).

Localização do Campus da UFPB, situado no município de Areia – PB.

Todos os dias faço o mesmo caminho pela universidade, prestando atenção nos bichos que vejo e escuto, e sempre que possível faço uma listinha... Virou um vício passarinhar no CCA. É uma ótima oportunidade de relaxar dos stress do dia a dia, já que tenho que estar lá sempre mesmo. Basta tirar uma horinha e ir ali e “acolá” observar e fotografar os bichos, até mesmo pela janela da sala quando vou bater um papo com o meu orientador, rola de ver uns bichinhos, como por exemplo, o pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa) tomando banho na água que se acumula nas folhas da bromélia.

Imagem da entrada principal do CCA.

A primeira vez que saí para passarinhar no campus foi um pouco depois que cheguei de uma viagem de campo, tinha acabado de adquirir minha máquina, uma super zoom, NIKON P600. Dá para fazer muita coisa com essas belezinhas! Estava louca pra fotografar as aves e nada melhor do que o caminho que faço todos os dias.

Parei logo no conhecido laguinho da Fitotecnia e lá estavam: frango-d'água-comum (Gallinula galeata) - a primeira espécie que eu fotografei no campus-, socozinho (Butorides striata), jaçanã (Jacana jacana), frango-d'água-azul (Porphyrio martinicus), irerê (Dendrocygna viduata); sem falar nas espécies que estão sempre ali no entorno, sempre mesmo, não tem erro. Quer vê-los? Pare uns minutinhos por lá que já aparecem: freirinha (Arundinicola leucocephala), curutié (Certhiaxis cinnamomeus), corruíra (Troglodytes musculus), lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), andorinha-doméstica-grande (Progne chalybea), bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis)... ufa!

Frango-d'água-comum (Gallinula galeata).

Frango-d'água-azul (Porphyrio martinicus).

Irerê (Dendrocygna viduata).


Socozinho (Butorides striata).


Casal de freirinha (Arundinicola leucocephala), fêmea e macho respectivamente.


Bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis).


Gente, esse laguinho é um dos meus locais prediletos pra observação lá no campus, não foi à toa que o escolhi logo de primeira. Dá para ver bem de pertinho os bichos e ainda tem como observar e acompanhar a ecologia das espécies. É uma pena que ele esteja tão poluído e tomado por espécies oportunistas que habitam esses locais cheios de matéria orgânica.

O tão falado lago da Fitotecnia.

Basta você observar com carinho que de tempos em tempos consegue-se ver os períodos reprodutivos dos bichos, já presenciei todas as etapas da reprodução do Frango-d'água-comum (Gallinula galeata), já vi jovens de Jaçanã (Jacana jacana) virarem adultos; sem falar no sumiço repentino dos Irerê (Dendrocygna viduata) e um tempo depois, o surgimento deles novamente (estou me referindo ao período de migração dessas aves). Tá bom, falei demais do laguinho, já deu pra perceber o quanto gosto dele. Mas a passarinhada pelo campus não fica só por aí.

Na sequência das fotos: a) casal de frango-d'água-comum (Gallinula galeata) construindo o ninho, b) chocando os ovos, c) alimentando os filhotes e d) zoom do filhote.

Tal mãe, tal filho (já diz o ditado). Indivíduos adulto e jovem de Jaçanã (Jacana jacana).

Por que não visitar aqueles setores das universidades que são mais distantes e que as vezes por falta de necessidade, ou até preguiça você não foi? Escolhi ir em direção à área de biotecnologia e zootecnia e por lá encontrei tuim (Forpus xanthopterygius), baiano (Sporophila nigricollis), vira-bosta (Molothrus bonariensis), rolinha-roxa (Columbina talpacoti), canário-do-campo (Emberizoides herbícola), socó-boi (Tigrisoma lineatum).

Macho do tuim (Forpus xanthopterygius).

Socó-boi (Tigrisoma lineatum).

Indo ao Prédio da Mata (onde se concentram a maioria das salas e ocorrem grande parte das aulas) e o setor da Veterinária (onde estão os laboratórios e hospital veterinário) tem canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola), tiziu (Volatinia jacarina), saí-canário (Thlypopsis sórdida), garça-vaqueira (Bubulcus íbis) e garça-branca-grande (Ardea alba).

Canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola).

Garça-vaqueira (Bubulcus íbis).

Durante o percurso na Universidade, passando pelo Prédio Central, Biblioteca e todos os outros locais, eu sempre avisto Pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa). Sim geeeeeeeeeeeente, ele mesmo! Lindo, maravilhoso e colorido, já cheguei a ver cinco indivíduos da espécie fazendo festa em uma árvore. Todo esse meu alvoroço é porque essa espécie encontra-se ameaçada de extinção, mas acreditem, não tenho uma foto decente deles, sempre perco a oportunidade, normalmente não estou com a câmera no momento dos melhores “encontros”. Fora ele, ainda tem saíra-amarela (Tangara cayana), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), sabiá-barranco (Turdus leucomelas), beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura). Sem falar no martim-pescador-verde (Chloroceryle amazona), martim-pescador-grande (Megaceryle torquata) acho esses bichos fantásticos e é só olhar com carinho nos laguinhos da piscicultura que você avistá-los por lá.

Caminho entre o Prédio Central e a Biblioteca.

Recentemente, em uma passarinhada rápida no fim de tarde com meu namorado e companheiro de Laboratório Cayo Lima, (Cayo Lima, Wikiaves) registramos saracura-três-potes (Aramides cajaneus), registro novo pra o município de Areia no Wikiaves e o que é que eu fiz? Afobada com o registro, heim heim? Corri e espantei o bicho, na verdade, os bichos, porque eram dois indivíduos da espécie que estavam caminhando próximo a um lago. Chorei horrores por isso. D-I-C-A: não se desespere ao ver uma espécie que seja um lifer ou por outro motivo qualquer, principalmente se a espécie for uma dessas terrícolas mais ariscas que não dão tanto mole de aparecer assim. Bem, por sorte o registro pra cidade foi garantido, já que enquanto eu corria em direção a saracura (quanto amadorismo!), Cayo conseguiu duas fotos ¬¬’

Por aqui encontramos ainda o Carrapateiro (Milvago chimachima), Gavião-pedrês (Buteo nitidus) entre outros rapinantes, mas não sou muito boa em identificar esses bichos em voo e quase nunca os visualizei-os pousados para registrá-los, tirar foto com eles voando ainda não consigo, meu amadorismo com a câmera não me permite isso rsrsrsrs. Tenho tanto a aprender ainda.

A lista do Campus totaliza 120 espécies (Lista de espécies), esta construída por nossa equipe do Laboratório de Zoologia dos Vertebrados e Paleontologia. Para ver mais fotos das minhas passarinhadas no CCA e outras, é só entrar no meu perfil do Wikiaves > Nayla Nascimento, Wikiaves.

Então, estão esperando o quê? Vamos desbravar as universidades por aí a fora!? :D

Fotos por: Nayla Nascimento.