Decidimos escrever nossos relatos de
observação de aves mesmo quando não conseguimos nos reunir! Afinal, sempre que
estamos na mata, em campo, ou onde quer que seja; observamos os “passarinhos” e
sempre nos lembramos umas das outras. Compartilhamos fotos, contamos sobre os
bichos vistos, os lifers, as histórias engraçadas da viagem, enfim, estamos de
alguma maneira sempre “juntas”. Por isso sempre que alguma de nós for
passarinhar, estará levando consigo todas as outras penelopes e desta forma,
vale a pena ser relatado aqui no nosso blog.
A ideia dessa viagem surgiu quando o Ciro
Albano (meu namorado) terminaria uma guiada de “birdwatching”
no Espirito Santo e voltaria de carro até em casa (Fortaleza), sozinho.
Resolvemos que seria uma opção nos encontrarmos no fim da viagem dele, para
“subirrmos” juntos, passarinhando e curtindo! Em Linhares, no último destino do
seu tour como guia, ele esteve na companhia do Gustavo Magnago, colega de
profissão, que atua como Guia no Estado do Espirito Santo (perfil wikiaves). Os dois combinaram uma passarinhada
com as “muié”, chamando sua namorada a Letícia Belgi Bissoli. Para completar
essa passarinhada de casais chamamos os mais “arretados” de todos: Marcos
Holanda e a Ester Ramirez,que prontamente se animaram. Ainda de última hora também compareceram José Almir Jacomeli e sua família. Confira o
relato da viagem:
1º dia: 06/02/2015
Cheguei ao aeroporto de Vitória-ES às 20h30min, estavam
todos me aguardando para buscarmos a Letícia
em Linhares e
seguirmos em direção a Reserva Natural da Vale. Todos prontos? Do aeroporto ate lá são cerca de 150km
numa estrada de ótima qualidade.
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Mapa da área Reserva Natural da Vale - Linhares - ES. Imagem do Google Earth. |
A
Reserva está situada no município de Linhares – ES, abrange 23 mil hectares,
sendo uma das maiores áreas protegidas de Mata Atlântica brasileira. É aberta
ao público, mas para ter acesso a todas as trilhas se faz necessário a companhia
de um guia. Possui um hotel muito aconchegante e fornece 3 refeições diárias! Para
maiores informações: clique aqui!
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Alojamentos da Reserva. |
2º dia - 07/02/2015
Acordamos às 7 para o café-da-manha, mas
antes de entrar no refeitório já comecei com meu primeiro lifer, o
periquito-rico (Brotogeris tirica), é um
bicho comum pelas bandas de cá, mas não por onde moro.
Após um delicioso café, o Gustavo nos
guiou ate uma área onde poderíamos ver a mãe-da-lua-gigante (Nyctibius grandis). O primeiro bicho a aparecer foi o pica-pau-de-coleira (Celeus torquatus tinnunculus). Eu já conhecia essa espécie, mas na
única vez que tinha visto, me deu um trabalhão fotografá-la. Aqui ele ficou um
bom tempo perto da gente, foi uma ótima oportunidade de melhorar o registro.
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pica-pau-de-coleira (Celeus torquatus tinnunculus) |
Estávamos no território da
mãe-da-lua-gigante, olhos bem atentos voltados para as copas das árvores,
tentando descobrir onde estariam empoleiradas.
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mãe-da lua-gigante (Nyctibius grandis) |
A galera continuou na trilha
enquanto eu e o Ciro voltamos para setor de hospedagem para buscar o Jacomeli
que estava com sua mulher e seus dois filhos, um casal, o menino tinha por
volta de uns 4 ou 5 anos e a menina uns 7 ou 8, estavam muito empolgados com as
trilhas na mata e com os “passarinhos”...é muito legal ver crianças tão
animadas por estarem em contato com natureza, ainda mais em uma “Era”tão tecnológica como estamos. No meio do
caminho ainda tivemos tempo de parar e fotografar o pica-pau-anão-barrado (Picumnus cirratus).
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Crianças praticando a observação de aves. |
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pica-pau-anão-barrado (Picumnus cirratus) |
Voltamos para a mata e a choquinha-de-flanco-branco (Myrmotherula axillaris) estava sendo
fotografada. Primeiramente uma fêmea e logo em seguida apareceu o macho! E
nessa mesma trilha, o macho da choca-de-sooretama (Thamnophilus ambiguus) também deu o ar da graça!
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choquinha-de-flanco-branco (Myrmotherula axillaris) |
Entramos no carro e fomos até uma
área aberta onde um bando de tiriba-grande (Pyrrhura cruentata)
cantava. São tantas cores em um bicho só que parece ser mentira! Um bandinho de
três indivíduos com direito a carinho entre eles, como os “psittas” tanto
gostam! Essa tiriba é endêmica e ameaçada de extinção, seu status de
conservação é considerado Vulnerável segundo a IUCN (http://www.iucnredlist.org/amazing-species).
Nesse mesmo descampado, em uma árvore na
borda da mata, pousaram um bando de araçari-de-bico-branco (Pteroglossus aracari). A manhã mal tinha
começado e já havia feito seis lifers fotográficos.
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tiriba-grande (Pyrrhura cruentata) |
Mais uma trilha e o Gustavo
chamou o rabo-branco-mirim (Phaethornis idaliae),
espécie endêmica do Brasil. Ocorrendo nas florestas
úmidas das baixadas litorâneas, matas de tabuleiro e hiléia baiana. Depois dessa manhã
incrível, voltamos para a área do hotel; almoçamos e tiramos um cochilo.
Após as energias renovadas, nos
encontramos próximo ao refeitório, dois saguis-de-cara-branca
(Callithrix geoffroyi)
estavam curiosos nos
olhando de longe! Eu particularmente adoro quando outros bichos além das aves
aparecem nas passarinhadas, gosto de conhecer um pouco sobre outros grupos de
animais. O sagui-de-cara-branca é endêmico do Brasil, encontrado principalmente nos estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo.
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saguis-de-cara-branca (Callithrix geoffroyi) |
A passarinhada da tarde foi na fazenda
Cupido & Refúgio, a Letícia que estava no carro da frente, desceu para
abrir o portão quando de repente, começaram a fazer gestos e mímicas cada um de um jeito,
sem entender nada ela recua e vimos que
era o mutum-de-bico-vermelho (Crax blumenbachii), um dos bichos mais
esperados na viagem. Eu e Ester saímos rapidamente do carro atrás do bicho com
muita calma para registrá-lo, era uma fêmea, ela atravessou a estrada na nossa
frente, foi lindo! Esse mutum é endêmico do Brasil e amaçado de extinção, seu status
de conservação é considerado Em Perigo segundo a IUCN. É extremamente sensível à caça, alteração e fragmentação do seu habitat,
por isso restaram tão poucos indivíduos na natureza!
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mutum-de-bico-vermelho (Crax blumenbachii) |
Seguimos na estrada, uma parada para conversar com pessoas da fazenda e um pica-pau-amarelo (Celeus flavescens) canta, o Ciro escuta e lembra a mim e a Ester que esse bicho foi recentemente “splitado” (uma subespécie já existente que foi elevada a espécie). Nosso registro de Celus “flavescens” era do nordeste. Que hoje é considerado espécie plena: o Celeus ochraceus, portanto mais um lifer!
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pica-pau-amarelo (Celeus flavescens) |
Paramos em frente a uma plantação de cacau, onde o macho do mutum-de-bico-vermelho
costuma aparecer, alguns minutos e ali estava ele. Eu e Ester fomos
silenciosamente em sua direção, andando agachadas por entre as plantações, com
passadas silenciosas para não espantá-lo...foi irado!!!
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Fotografando o mutum-de-bico-vermelho macho (Crax blumenbachii) |
Assim que o
mutum foi embora ficamos um pouco mais nos arredores, pois um bando enorme de tiriba-de-orelha-branca
(Pyrrhura leucotis) pousou em uma árvore em cima de nossas cabeças! E
logo em seguida, um bando de chauá (Amazona rhodocorytha) passou voando
e emitindo sua vocalização que remete ao seu nome “Chauá, Chauá, Chauá”!
Escutamos essa espécie com certa frequência na reserva, o que é um ótimo sinal,
pois seu status de conservação é Em Perigo de acordo com a IUCN.
A
luz já tinha quase ido embora e continuávamos
a rodar dentro da Reserva... Um “ser” passa correndo pela estrada! Eita, um macuco
(Tinamus solitarius)! Descemos do carro e fotografamos, bichinho arisco,
rapidinho se escondeu no mato e as fotos não ficaram lá muito boas :/ Escurece
e o Gustavo começa a nos mostrar os macucos empoleirados em árvores bem altas!
Eu sou apaixonada por esses bichos de chão, já é a segunda espécie da viagem
depois do mutum, eu vou enfartar de tanta felicidade rs! Fotos fantásticas, mas
sem muitas delongas para não espantar o bicho do seu poleiro de dormida! E assim
se encerra o dia na Vale. Faltou fazer o registro da minha cara de abestalha
após um dia desse...mal sabia que mais havia por vir!
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macuco (Tinamus solitarius) |
Depois de toda essa alegria, voltando
mais do que feliz para área de hospedagem da reserva, pensando que melhor que
aquilo era impossível, o carro do Gustavo para bem em cima de um inhambu-anhangá
(Crypturellus variegatus), ele
estava parado, dormindo no meio estrada, uma espécie dificílima de se ver...graças
aos olhos atentos e bem treinados do nosso guia, o bichinho não foi atropelado!
Descemos do carro com cuidado, mas mesmo assim ele entrou na mata. Para nossa sorte,
ele fez uma paradinha e conseguimos o registro! Gente...depois de fotografar
mutum-de-bico-vermelho, um macuco e um inhambu-anhangá já posso ir para casa cantarolando não é?!
Mas ainda bem que eu não vou porque sei que amanhã será um dia daqueles com
muitos lifers pela frente!
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inhambu-anhangá (Crypturellus variegatus) |
3º dia - 08/02/2015
Hoje amanheceu bem
nublado e com algumas gotinhas de chuva... Começamos a passarinhada fotografando
diferentes psitacídeos: chauás, curicas (Amazona amazonica) e um casal de maitaca-de-barriga-azul (Pionus reichenowi), eles estavam
longe para minha lente, infelizmente! Consegui curtir os bichos com o binóculo
e fazer alguns registros.
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Todo mundo registrando os psitacídeos |
O povo das
lentes gigantes (500mm e 600mm) ficou lá se entretendo com os “psittas” e eu
sai para dar uma volta; no caminho encontro um quati (Nasua nasua) atravessando a
estrada, mais uma foto para coleção de “não-aves”! Sempre que vejo um mamífero lembro-me
da penelope Nathália, a nossa mastozoóloga do grupo.
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quati (Nasua nasua) |
Me distraindo
com o quati, escuto um barulho em baixo da árvore que estava, era uma jacupemba
(Penelope superciliares), preciso fotografá-la e mandar para as meninas (penelope
é o gênero que dá o nome ao nosso grupo). Na hora eu não consegui uma boa foto,
mas essas coisas acontecem...quem sabe ela não aparece de novo!
Voltei ao
grupo, estavam fotografando o benedito-de-testa-amarela (Melanerpes flavifrons)
e um bando imenso de periquito-rico (Brotogeris tirica)
passou voando sobre nós, acho que eram uns 100 indivíduos (se quiserem contar).
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periquito-rico (Brotogeris tirica) |
Nos
encaminhamos para outro local (a Vale é enorme), e mais um lifer, desta vez o arapaçu-de-garganta-amarela
(Xiphorhynchus guttatus). Em direção ao refeitório mais uma paradinha e um
surucuá-grande-de-barriga-amarela (Trogon
viridis) bem “tranquilão” e um macaco-prego (Sapajus nigritus) dando uma corridinha no galho para me lembrar novamente da Nathi e
mandar a foto pra ela tirando uma onda é claro :P
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macaco-prego (Sapajus nigritus) |
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arapaçu-de-garganta-amarela (Xiphorhynchus guttatus) |
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Surucuá-grande-de-barriga-amarela (Trogon viridis) |
Depois do almoço o Gustavo nos levou ao
ponto do bico-chato-grande (Rhynchocyclus olivaceus)
e depois de muito trabalho conseguimos. A contabilidade dos bichos está indo
muito bem, até agora foram 15 lifers fotográficos!
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bico-chato-grande (Rhynchocyclus olivaceus) |
Já em outro ponto, um casal de maracanã-verdadeira
(Primolius maracana), estava bem escondido, por um buraquinho na mata
conseguimos encontra-las e fotografar!
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Fotografando a maracanã-verdadeira (Primolius maracana) |
Resolvemos jantar antes da passarinhada
noturna, no caminho vimos novamente uma jacupemba (Penelepe superciliares) voando para uma árvore baixa bem perto no
carro, desci determinada a fotografá-la, só pensava nas “”penelopes””, essa
foto tinha que sair de qualquer jeito, cuidadosamente fui seguindo e ela se esquivando de galho em galho,
passando de uma árvore para outra, e enfim no limpo! Meninas essa foto foi em homenagem a vocês.
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jacupemba (Penelepe superciliares) |
Depois da janta, algumas cervejinhas e
uma boa conversa, vamos voltar para o mato! A procura agora é por um bicho
lindo, raro, ameaçado e lógico mais um lifer (Segundo o Marco Holanda tudo que
se mexia na Vale era lifer pra mim :X). A estrela da noite era o urutau-de-asa-branca
(Nyctibius leucopterus).
Chegamos no ponto onde
ela havia sido avistada há poucos dias, bastou um pequeno assobio imitando sua
vocalização para ela aparecer e ficar quase imóvel no galho, foi muito
emocionante, fechamos a viagem com chave de ouro!!! Renderam fotos excelentes e
até a gravação de um vídeo!
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As mulheres nos canhões! |
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urutau-de-asa-branca (Nyctibius leucopterus)
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Muito obrigada ao casal Gustavo e Letícia
pela maravilhosa recepção, a Vale é realmente encantadora...Ahhh a Mata Atlântica!
Além dessa recepção, agradeço também a companhia incomparável do casal Marcos e
Ester, quem já os conhecem sabem do que estou falando, me diverti muito! Observar
passarinhos também é um ótimo programa para casais, estão vendo!
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Da esquerda para direita, Gustavo, Letícia, Marcos, Ester, Ciro e Cristine. |
Vocês podem conferir no vídeo abaixo um pequeno resumo do que foi essa viagem!